Conhece o MQA, formato de áudio de alta resolução?

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Ofertas recentes no mercado fonográfico japonês apontam para o ressurgimento do MQA, áudio de alta resolução que aparentemente nunca chegou ao Brasil.

 

MQA, ou Master Quality Authenticated, é um formato de áudio lançado anos atrás pela Meridian, empresa de enorme reputação na construção de codecs de áudio, como por exemplo, o Meridian Lossless Packing, ou MLP, usado para áudio 5.1 no DVD-Audio.

O formato MQA foi lançado em 2014 e é comprimido (“lossy”). A  joint venture Warner-Meridian passou às mãos de uma empresa com o nome de MQA Limited, que licencia o uso do codec para terceiros.

Um dos objetivos de fazer um novo tipo de áudio comprimido de alta resolução é o seu uso em streaming, o que vem sendo feito pelo serviço Tidal, disponível no Brasil. Para acessar o conteúdo rotulado como “Masters” (MQA) é preciso assinar o plano HiFi, por US$ 19.99 (cerca de R$ 77,47 ao câmbio de hoje).

 

 

Eu me considero uma pessoa com razoável vivência neste mundo do áudio, mas não tenho medo de confessar a minha completa ignorância e desconhecimento deste codec. Na dúvida, eu fui perguntar a um amigo muitíssimo mais conhecedor de áudio do que eu, e ele também nunca tinha ouvido falar do MQA.

O que me chamou a atenção recentemente sobre a existência do MQA foi o anúncio recente de CDs contendo arquivos codificados no formato, a serem lançados por uma empresa japonesa. Diga-se de passagem que o Japão é pródigo de lançar formatos que a maioria de nós nem desconfia por quê. Anos atrás os japoneses levantaram uma tese de que SACD não híbrido (sem a parte do CD inclusa) tem sonoridade superior, tese esta que não encontrou sustento em outras partes.

Críticas

A aceitação pública de diversos segmentos para o MQA está dividida, algumas das críticas com fortíssima objeção contra o formato, como esta vinda da Linn, reputado fabricante de hardware de alta qualidade. A objeção se dá em múltiplos níveis, entre os quais aqueles envolvendo as etapas de geração do codec dentro do arquivo fonte, todas elas, sem exceção, com pagamento de direitos para a MQA.

O licenciamento abrange hardware e software, o que acresce o custo da produção de arquivos MQA para o consumidor final. E isso qualquer um pode ver facilmente no preço praticado no varejo para um decodificador off board adequado.

O MQA parece, em princípio, destituído de proteção contra cópia (DRM), mas na realidade todos os arquivos são submetidos a um “fingerprinting” (impressão digital), que verifica cada etapa da cadeia de produção a qual o arquivo fonte é submetido. Na prática, isto significa que se a cadeia de reprodução não for 100% compatível o resultado final não será realizado.

Os proponentes do MQA argumentam que o fingerprinting tem como objetivo ajustar a reprodução do áudio segundo a fonte, da mesma forma como as características físicas de uma lente podem ser ajustadas por programas capazes de ler os metadados embutidos nas imagens fotográficas geradas por ela. O problema é que em sistemas de captura de áudio nada é gravado que possa indicar este tipo de “assinatura” eletrônica. Assim, na codificação do MQA as informações deste tipo são inseridas por um método que não é devidamente esclarecido. Tanto assim, que qualquer um poderia inferir que se o equipamento de fonte não tem assinatura alguma, todo o processo de descoberta é empírico, podendo até ser um exercício de adivinhação.

Pelo sim pelo não, a simples reprodução de uma mídia convencional, feita através de um equipamento com características eletrônicas avançadas, é direta e não pressupõe nenhum tipo de algoritmo para estabelecer a cadeia de gravação da fonte.

Escassez de oferta

Eu estou naquele grupo que não aguenta mais ver exposto à venda álbuns que a gente já teve em diversos formatos, como por exemplo “Dark Side Of The Moon”, rock progressivo do grupo Pink Floyd. Este tipo de gravação atravessou décadas, desde o Lp estéreo, passando pelo Lp quadrafônico e indo parar no SACD 5.1, que tentou motivar a adoção deste último formato.

E o que a gente viu são formatos de áudio de alta resolução, com o SACD e o DVD-Audio que acabaram por se tornar comercialmente um fracasso retumbante!

Ora, o que tem por aí ofertados como MQA é a mesma coisa. Com o agravante que, com exceção de um material de música clássica para download, o que sobra do catálogo é de pouco interesse para outros tipos de ouvinte.

Em última análise, o questionamento será embasado na oferta de mais um formato, quando outros formatos que ainda estão por aí nunca conseguiram se estabelecer como padrão de áudio de alta resolução, obrigando o usuário a manter equipamentos multiformato na cadeia de reprodução doméstica.

A tentativa recente de reintroduzir o MQA me remete (e ouso dizer a muitos outros usuários) à indagação de que se outro codec com o mesmíssimo material fonte faz sentido ou não. Posso estar posando como hipócrita (e talvez esteja mesmo) ao afirmar que não faz sentido adotar mais um formato, com custo elevado, sem aparentemente nenhuma contribuição importante ao que já existe por aí. Mas, como a escolha é individual, eu posso muito bem estar enganado!

 

Outrolado_

 

 

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Do tempo das diligências ao som digital

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Olá Paulo

    Mais uma vez trazendo a tona um tema significante para conhecimento
    geral, e debate de todos que apreciam o assunto áudio.
    Suas ponderações foram corretíssimas, apenas mais um formato de codec.
    Sem propósito e desnecessário. Afinal a exemplo dos codecs de vídeo,
    esse outro não agrega nada em matéria de “inovação”, apenas um novo
    formato baseado em outros já lançados. Isso ao meu ver é sinal de
    que os fadados “mestres em tecnologia” erraram e muito, no processo
    inevitável da digitaização tanto do vídeo quanto do audio.
    A maior prova disso é a volta com força na Europa e nos EUA
    no Vinil. Será que não percebem que digitalizar é a mesma coisa de
    comprimir, e isso degrada o áudio? A fisica é clara, ao se comprimir muita coisa será perdida.
    Qual seria a solução Paulo ? Seria voltarmos atrás e aprimorarmos
    o que já existia antes (fitas magnéticas, e vinil) ?

    1. Oi, Rogério, existem vários codecs de alta resolução e com excelente desempenho. Mesmo o CD, que muitos puristas desconsideram, tem resolução suficiente para reproduzir música fidedignamente. A volta para trás, na minha opinião, seria um retrocesso, porque o áudio analógico mostrou limitações ao longo do tempo, que eu não teria espaço para listar aqui, mas acredite que essas limitações foram aquelas que impulsionaram a mudança de ambiente, entre outros fatores. Não há como aprimorar vinil. Este foi um assunto que eu estudei a fundo no passado distante, e vi funcionando em estúdio de corte. Conheço detalhes o suficiente para nunca mais voltar a tocar um Lp na minha vida, e fico abismado de ver o high end europeu fabricando toca-discos com valor absurdamente alto, mas neste mundo há público para tudo, e eu respeito isso. No que me concerne, eu estou fora de Lp e fita cassete e não volto mais!

      1. olá amigo, muito interessante sua matéria, mas tenho uma dúvida que foge um pouco do que vc publicou, e talvez você sabe sanar minha dúvida quanto a qualidade do audio dos cds atuais, vou citar um exemplo, a dupla Leandro e Leonardo, seus cds foram lançados nos anos 90, até hoje estão sendo feitas novas tiragem dos cds, O AUDIO DESSES CDS RELANÇADOS PELA GRAVADORA DELES, será que tem a qualidade inferior de audio do cd lançado na época? ou isso não muda?

        abraço.

        1. Oi, Gelleard,

          Não tem problema, porque a sua pergunta é pertinente.

          A informação digital, ao contrário da analógica, não sofre alteração de geração para geração. Assim, se a master usada for a mesma qualquer prensagem nova será idêntica à anterior.

          O que pode mudar? Quando se autora um CD/DVD/Blu-Ray a fonte de sinal (áudio ou vídeo) pode ser reprocessada. Isto tem sido feito sistematicamente na indústria fonográfica inclusive, a maioria das vezes para melhorar a transcrição de algum material de interesse.

          No seu caso, seria preferível você se informar com quem de direito se este tipo de melhoria (com uma master nova) foi feita ou não. Se não foi, é provável que o som dos novos CDs será o mesmo do CD anterior.

          Espero ter ajudado.

          1. Paulo, me ajudou sim, inclusive eu já escutei alguns cds produzidos pela antiga VAT VIDEO AUDIO, depois foi produzido pela Gravadora Copacabana, e notei que o audio dos cds da VAT eram mais baixos do que os da Copacabana.

            muito obrigado

            abraço.

      2. Parabéns pela resposta mais idônea por estas bandas tupiniquins a uma mídia que muitos idolatram sem ter um décimo de seu conhecimento!

        Fazendo parte da comunidade hydrogenaud.io há 20 anos, sua opinião é completamente em sintonia com os preceitos científicos praticados esta notória comunidade de fãs do áudio digital, não de placebo.

      3. Você disse tudo, nada analógico em música chega perto do digital, amo o áudio digital desde 44.1 ao dsd do sacd, sou técnico em eletrônica e sei muito bem o que é fita magnética e vinil, e também sei o que é um pré amplificador analógico para amplificar a cápsula do fono e do cabeçote da fita cassete. Ruim ruom e ruim.

        1. Oi, Alberto,

          Obrigado pela leitura e comentário. No passado longínquo eu li nos fóruns de engenheiros e técnicos uma fortíssima objeção a repudia por audiófilos ao formato do CD, cuja amostragem, segundo eles, é amplamente satisfatória, e isso foi dito em uma época em que se afirmava que o CD ficava abaixo do áudio de alta resolução, isto é, transcrições a 96 e 192 kHz. Eu me cansei de tentar traçar paralelos, munido de discos em todos esses formatos e, pelo menos para mim, a realidade é a seguinte: um disco bem remasterizado soa muito bem, independente da taxa de amostragem.

          Mas, é claro que existem aqueles que ainda se envolvem em todo o tipo de debate, como, por exemplo, DSD versus PCM, e assim por diante, diante de critérios técnicos questionáveis. Um amigo meu costumava dizer que esta diferença está mais para a imaginação das pessoas do que para a realidade.

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