Clássicos da animação de Walt Disney voltam em relançamento

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Chega ao mercado a edição em Blu-Ray de Branca de Neve e os Sete Anões, histórica animação de Walt Disney e importante na filmografia do estúdio e do cineasta.

 

Lançamentos anunciados anos atrás, e nunca realizados na época propícia, alguns clássicos produzidos por Walt Disney voltam finalmente às prateleiras locais.

O anúncio foi feito recentemente, e como esses discos já saíram aqui e depois sumiram, quem coleciona é bom ficar de olho.

No que me concerne, eu fiquei particularmente interessado no relançamento de Branca de Neve e os Sete Anões, primeiro longa metragem lançado pelo estúdio, e que irá substituir a minha edição antiga em DVD.

Porque Branca de Neve é um filme importante para o colecionador?

A década de 1930 foi uma das épocas mais importantes para Walt Disney. Sua ambição era tornar o cinema de animação um importante veículo de comunicação e não apenas um meio de preencher lacunas com coletâneas de gags para o público adulto ou infantil.

Até então, o cinema de animação era visto de forma cartunesca com personagens repetitivos e dentro das mesmas anedotas. Para atingir o nível que Walt Disney queria ele teria que, em primeiro lugar, mandar o seu estafe artístico de volta para os bancos escolares.

Parece mentira, mas Walt não queria humilhar ninguém e sim mostrar as limitações que os designers daquela época estavam impondo ao cinema de animação. Não só isso, mas a animação propriamente dita, longe de qualquer tipo de realismo, iria forçosamente impedir que projetos como Branca de Neve tivessem qualquer tipo de credibilidade.

E por isso, uma das coisas que Walt insistiu com os animadores foi que eles estudassem movimento. E para tal contratou atores e dançarinos para filmar sequências de dança, interpretação e o que fosse preciso para que os animadores observassem e analisassem os diversos tipos de movimento e os desenhassem posteriormente.

Durante a década de 1930 Walt Disney fez uma série de iniciativas que culminariam no progresso do cinema de animação e por que não dizer do cinema em geral?

Disney fechou um acordo com a Technicolor, de modo a poder usar o método em cores de 3 negativos, o mais moderno daquela época, dotado de absoluta fidedignidade de reprodução. Com o advento da cor, novos matizes de tinta foram criados, com o uso de corantes extraídos de plantas.

Na década de 1990 eu tive a chance de assistir um seminário da Varian, e conversar com um cientista, cuja equipe havia desenvolvido um fotocolorímetro capaz de analisar as cores dos filmes de animação feitos por Walt Disney. Esse equipamento foi usado para um balizamento na correta restauração das cores usadas durante o período experimental de cores pelo estúdio.

Outra inovação foi o som: efeitos sonoplásticos convincentes tiveram que ser criados, para dar realismo aos filmes. Além disso, o estúdio começou a flertar e depois desenvolver um sistema de gravação de som estereofônico e posterior mixagem multicanal, o que aconteceu no final da década já em formato definitivo.

Durante este período Disney incentivou artistas animadores a aprimorar seus designs, através da série Silly Symphonies, curtas de animação que serviram de base para os projetos mais ambiciosos.

Dentre essas inovações, a mais marcante foi a da cinematografia com o uso da câmera multiplano, design desenvolvido por Ub Iwerks. O sistema foi testado no curta The Old Mill (“O Velho Moinho”), rodado em 1937, um pouco antes de Branca de Neve ser lançado.

 

Câmera multiplano, inovação no cinema

Quando o projeto de realização de Branca de Neve foi anunciado os poderosos chefões de Hollywood começaram a dizer para os animadores que Walt Disney tinha ficado maluco, e o assunto foi parar na imprensa:

 

Crítica na época do lançamento de Branca de Neve

 

O argumento daquela “loucura” era de que nenhuma criança iria ficar sentada durante uma hora e meia de projeção, e a novidade iria cansar as plateias rapidamente. Mas, quando o filme foi lançado, o resultado foi exatamente o oposto!

A estória e as suas implicações filosóficas

Branca de Neve, sob vários aspectos, é uma obra que, segundo historiadores, sofreu um monte de modificações pelos seus autores, os Irmãos Grimm. E sofreria outras tantas nas decisões de Walt Disney!

Os métodos de produção de Walt Disney são conhecidos: ele reunia toda a equipe ou tinha encontros individuais com alguns deles, na medida da necessidade. Desses encontros todos havia discussão de roteiro, e soluções de cena, entre outros detalhes.

Disney assumia para si a responsabilidade da realização do filme, mas aceitava opiniões e até dava um incentivo financeiro a quem conseguisse criar uma “gag” (anedota visual ou escrita) convincente. “5 pratas por gag”, essa era a brincadeira para estimular a criatividade dos seus artistas. Apesar da liberdade dada, a palavra final era sempre a dele.

 

Branca de Neve foi todo “encenado” pelo próprio Walt Disney e o roteiro e as suas modificações estabelecidas antes por storyboards (quadros com desenhos mostrando a sequência das cenas). Cenas eram depois animadas com lápis e se não funcionassem descartadas.

Disney acertou quando ele e sua equipe decidiram que a rainha vilã da estória deveria ser uma mulher de grande beleza.

Isto porque um dos principais méritos da estória é mostrar a vaidade feminina diante do espelho mágico, o qual é compelido a sempre dizer à rainha que ela era a mulher mais bela do mundo. Isto, é claro, antes do mago do espelho descobrir Branca de Neve. A partir daí a rainha faz de tudo para que Branca de Neve desapareça da face da terra.

Outro importante acerto do roteiro foi não matar a vilã na frente da plateia. Na realidade, a solução encontrada foi tão inteligente, que a cena se tornou recorrente em praticamente todos os filmes de animação subsequentes: a morte ocorre porque a vilã cai em um precipício, que é mostrado de cima para baixo, e aí ninguém vê o personagem vilão se espatifar no chão.

No roteiro de Branca de Neve Disney e sua equipe contornaram a monotonia aplicando diferentes tipos de personalidade humana aos anões, assim interagindo com Branca de Neve de forma completamente desigual.

Ainda no que tange a acertos sobre a estória original, o príncipe conhece Branca de Neve bem cedo no roteiro, de forma que no final do filme ele a reencontra já sabendo quem ela era.

O despertar de Branca de Neve acontece quando o príncipe a beija com o beijo do amor verdadeiro, uma quase utopia da vida real que acabou se tornando assim uma espécie de marca registrada dos filmes do estúdio.

Na parte técnica, o filme é inovador para todos os moldes de animação daquela época. Como mencionado anteriormente, Disney havia contratado professores de desenho artístico e mandou seus animadores de volta aos bancos escolares.

Além disso, filmou atores em movimento e fez os animadores envolvidos com o projeto estudarem cada movimento. Só isso já foi bastante para dar ao filme um aspecto de realismo em animação nunca antes visualizado na tela.

A “nova” edição em Blu-Ray

O relançamento de Branca de Neve e os Sete Anões em Blu-Ray é a versão Diamante da coleção do estúdio. Na América, a versão atual é a chamada “Signature”, vendida um pouco mais barata.

Analistas do site Blu-Ray.com comentam não haver diferença alguma entre as duas versões, o que nos traz um certo alívio.

Eu confesso que não entendi até agora o porquê do atraso neste lançamento. No ano passado eu havia desistido de importar o disco, cuja cópia iria substituir o antigo lançamento em DVD duplo, quando a Disney Brasil decidiu colocar o filme de volta nas prateleiras. Mas o relançamento nunca aconteceu, e neste ano irá demorar até fim de setembro.

O mercado de discos de vídeo no Brasil virou um caos desde o ano retrasado. Títulos das grandes distribuidoras são omitidos, alguns entregues a selos pequenos, enquanto a produção de Blu-Ray encolhe e a de DVD aumenta todo dia. Blu-Ray 4K nunca apareceu e ameaça nunca ser lançado. Vá se entender isso!

Outrolado_

 

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Bem Paulo

    Ao que parece as distribuidoras (somente aqui no Brasil) só estão interessadas em lançar títulos que tenham boa aceitação, que atinjam o maior números de consumidores, para garantir uma rápida venda dos títulos lançados, evitando que fiquem parados em exposição, e estocados em prateleiras das lojas (tipo Saraiva, Cultura e etc…) Senão vejamos, esse título infantil (tema desta matéria) da Branca de Neve, já foi lançado numa época pensando no dia das crianças, e terá boa saída. Outro título prestes a chegar nas lojas será os Vingadores (sucesso de bilheteria no Brasil), Então só podemos concluir (para nós cinéfilos), só resta gastar uma boa quantia e ter muita paciência, e termos que importar filmes selecionados e de gabarito, que só vemos serem lançados lá fora (como você descreveu Paulo). É mercado de filmes em mídia no Brasil literalmente agonizando.

    1. Pois é, Rogério a nossa realidade atual de mercado é triste: nenhum player 4K lançado aqui. Se alguém recorrer ao importado, um Cambridge Audio passa dos 7 mil reais, e um Oppo (quando se acha um) passa dos 5 mil. E aí? O disco Blu-Ray continua saindo lá fora, aqui nem sombra. O dólar com esta instabilidade política que não acaba vai subindo cada vez, frustrando aqueles que são colecionadores antigos, como nós.

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